A Polícia Civil deflagrou, nesta quinta-feira (27), uma operação contra suspeitos de envolvimento em brigas de torcidas organizadas em dias de jogos de futebol no Grande Recife. Até o fim do dia, 23 pessoas haviam sido presas, sendo 12 integrantes da organizada do Sport e nove da do Santa Cruz. Dois presos não tiveram a torcida informada pela corporação.

Ao todo, foram expedidos 42 mandados de prisão e três de internação provisória de menor, além de 24 mandados de busca e apreensão e outros três de sequestro de bens.

De acordo com a polícia, as investigações da Operação Contra Pista começaram no dia 1º de fevereiro, após um tumulto que deixou 13 feridos antes de um clássico entre Sport e Santa Cruz no Estádio do Arruda, na Zona Norte da capital pernambucana. No dia da confusão, 32 pessoas foram detidas.

Imagens recebidas pelo g1 mostram o momento em que alguns dos suspeitos presos na operação nesta quinta (27) chegaram ao Comando de Operações e Recursos Especiais (Core), no Centro do Recife. Não foi divulgado um balanço de quantas pessoas foram presas até a última atualização desta reportagem. Os nomes dos alvos não foram divulgados.

Os mandados estão sendo cumpridos em Jaboatão dos Guararapes, Ipojuca, Igarassu, Olinda e Paulista, na Região Metropolitana, e em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata Sul de Pernambuco.

As ordens de prisão e apreensão foram expedidas pela 2ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca do Recife e pela 3ª Vara da Infância e Juventude da Capital. Segundo a polícia, os suspeitos são investigados por participar de associação criminosa voltada para os seguintes delitos:

provocação de tumulto;

lesão corporal;

tentativa de homicídio;

corrupção de menores.

Ainda de acordo com a polícia, a operação é conduzida pelo delegado Raul Junges, titular da Delegacia de Repressão à Intolerância Esportiva (DPRIE), e envolve a atuação de 170 policiais civis.

Roubo motivou briga

Ao todo, 45 pessoas envolvidas na confusão incluindo três adolescentes, foram identificadas, segundo a Polícia Civil. As informações foram divulgadas pela polícia durante entrevista coletiva sobre a Operação Contra Pista, deflagrada nesta quinta-feira (27).

De acordo com o delegado responsável pelas investigações, Raul Carvalho, chegou a 33 o número total de presos por envolvimento no tumulto entre torcedores do Sport e do Santa Cruz, incluindo os 12 detidos na briga de 1º de fevereiro.

Segundo o delegado, o que motivou a briga foi o roubo de um instrumento da torcida do Sport por membros da organizada do Santa Cruz na véspera do jogo.

"A bateria, o instrumento musical que eles utilizam no estádio, é uma coisa muito importante para eles e foi subtraído pela outra torcida e isso foi o estopim para que, no dia seguinte, acontecesse o ato de violência", afirmou o delegado.

Entre os presos, estão dois torcedores que empalaram o ex-presidente da torcida do Sport com um cabo.

"Nessa subcultura delinquente envolvendo essas torcidas violentas, um dos resultados que elas cometem ali é a retirada das roupas e dos pertences dos envolvidos. Porque elas postam nas redes sociais como se fosse uma premiação", contou Raul Carvalho.

O que diz a defesa dos torcedores

O advogado Ivson Tavares, que representa onze torcedores do Sport investigados na operação, disse que as prisões são temporárias e que ainda não teve acesso aos autos da investigação. Ele negou que os suspeitos estejam envolvidos na confusão do dia 1º de fevereiro.

"São uma cultura aqui no nosso estado as ditas 'caminhadas', em que eles vão para um ponto de concentração e se deslocam, todos juntos, em direção ao local da partida. Isso para todos os times grandes da capital. A informação que tenho até este momento é que eles estavam meramente nesse deslocamento", afirmou.

Já Lozymayer Renato, advogado de membros da torcida Explosão Inferno Coral, do Santa Cruz, disse que não concorda com as autuações dos clientes. Segundo ele, algumas prisões têm prazo de 30 dias e outras, 60.

"Hoje nossa função aqui é garantir a legalidade do ato [as prisões], garantir que esses que estão sendo conduzidos tenham o devido processo legal, a ampla defesa, o contraditório, e, inclusive, a questão de que são prisões temporárias [...]. A priori, a orientação da defesa é que eles utilizem o direito constitucional ao silêncio. Não é o momento, no entendimento da defesa, para se manifestar", declarou.

Brigas de organizadas

No dia 1º de fevereiro, 13 pessoas ficaram feridas durante uma briga entre organizadas do Sport e do Santa Cruz, que transformou ruas do Recife num cenário de guerra.

A confusão ocorreu horas antes de um "Clássico das Multidões" no Estádio do Arruda.

Imagens enviadas à TV Globo e publicadas nas redes sociais mostram agressões brutais, correria, bombas, depredação em vários bairros e até saques.

Nelas, é possível ver torcedores carregando pedras e pedaços de paus.

Segundo a Polícia Civil, no dia do tumulto, 32 torcedores foram conduzidos à delegacia e 13 tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça.

Um deles foi o presidente da organizada do Sport, que também ficou ferido e permaneceu sob custódia no Hospital da Restauração, na área central da capital pernambucana.

Outro envolvido, segundo a polícia, participou do ataque ao ônibus do Fortaleza, que deixou seis jogadores feridos, em fevereiro do ano passado.

No dia 8 de março, 12 membros de uma organizada do Sport foram detidos com bombas caseiras horas antes de mais um "Clássico das Multidões" na disputa pelas semifinais do Campeonato Pernambucano.

Uma semana depois, em outro clássico de torcida única contra o Sport, um torcedor do Santa Cruz foi agredido dentro do Estádio do Arruda após ser confundido com um "infiltrado".